As mulheres não aproveitaram o boom das novas tecnologias

O forte crescimento do setor das novas tecnologias não teve o impacto esperado sobre o emprego das mulheres, sobretudo na Europa ocidental.

Published On: Abril 19th, 2018
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As mulheres não aproveitaram o boom das novas tecnologias

O forte crescimento do setor das novas tecnologias não teve o impacto esperado sobre o emprego das mulheres, sobretudo na Europa ocidental.

Mulheres com elementos de um dos primeiros computadores do exército dos Estados Unidos (Wikimedia Commons )

Em pleno desenvolvimento, o setor das NTIC é uma área promissora para o futuro do emprego e que está fortemente ligada a inovação. Mas ele ainda está muito marcado por uma dinâmica e uma segregação sexista, como existe também na maior parte dos outros setores económicos.

As razões desta situação assentam nos incontestáveis preconceitos culturais. Segundo um estudo recente, as modificações de códigos propostas por mulheres são mas frequentemente aceitas pelos responsáveis do referencial, mas só se o género do autor não foi divulgado. O desequilíbrio entre os géneros neste setor começa desde os estudos e tem um impacto sobre o mercado de trabalho.

As NTIC : um setor em pleno crescimento que marginaliza as mulheres

O emprego nas NTIC está em pleno crescimento na UE, num momento onde o digital difunde-se em todos os ramos profissionais e redesenha o mundo do trabalho. Este setor precisa de uma larga gama de competências, cujo os perfis profissionais são tão diversos como analistas de sistema, desenvolvedores de softwares, engenheiros de telecomunicação, comerciais NTIC, graphic designer ou designer multimédia.

Especialistas desta carreira promissora são particularmente procurados : o crescimento de ofertas de emprego é 8 vezes mais elevado do que noutros setores da UE, segundo Eurostat. As empresas de todos os países europeus apresentam dificuldades em empregar especialistas das NTIC, em particular na República Checa, na Eslovénia, no Luxemburgo, na Áustria, na Bélgica ou na Estónia como mostram as ultimas estatísticas da Eurostat, sobretudo nos postos de trabalho difícil de conseguir. Em consequência, pode-se esperar um défice de 500 000 especialistas NTIC na Europa daqui 2020.

Mas até aqui, o setor das NTIC foi marcado por uma importante segregação dos géneros : menos de dois assalariados sobre dez eram mulheres. Discriminação é particularmente evidente nos postos de responsabilidade : o gráfico aqui abaixo mostra a percentagem de mulheres empregadas como especialistas NTIC nos países europeus. Os especialistas NTIC são empregados capazes de desenvolver, explorar e cuidar dos sistemas das NTIC e para os quais estas tarefas correspondem a parte principal do trabalho, designando assim postos de trabalho com uma forte responsabilidade, em comparação com simples técnicos de NTIC.

Só na Roménia e na Bulgária é que as mulheres constituem mais do quarto deste perfil profissional.

Os dados parecem menos preocupantes se temos em conta a taxa geral de emprego no setor. Se incluímos os postos intermédios e menos qualificados (técnicos das NTIC, em roxo no gráfico aqui abaixo), a repartição entre os géneros fica mais equilibrada, em particular nos novos Estados membros da UE.

Mas as mulheres não tiveram sempre ausentes deste setor. Em França e nos Estados Unidos em particular, a proporção de mulheres era muito mais elevada nos anos 70 e 80. Pode-se explicar pelo facto que, naquela época, a maior parte destes empregos eram considerados como pouco ambiciosos e com uma vertente administrativa. Com a aparição da industria do PC e com o desenvolvimento de internet, o estatuto dos postos de trabalho das NTIC transformou-se, como também a imagem sem género do técnico informático : “os postos de processamento de dados e de análise, pouco qualificados, foram progressivamente deslocalizados ou automatizados” explica o Instituto europeu para a igualdade entre os homens e as mulheres (EIGE) no seu ultimo relatório, “enquanto o estatuto mais elevado das novas profissões atraiu mais os homens”.

Hoje em dia, a figura do “geek” ou do “hacker” é fortemente associado a masculinidade. Segundo o EIGE, três fatores principais explicam a fraca participação das mulheres : “O interesse menor das mulheres e o nível de qualificação neste domínio, as carreiras NTIC favorecendo os homens, os fatores culturais reforçando a associação entre o setor e a masculinidade”.

O impacto positivo contra a segregação dos géneros no mercado do trabalho, que se pode esperar graças a criação de empregos nos NTIC, é incerto se não remediamos as tendências atuais. O setor é considerado como uma política chave para a EU, porque é essencial para o crescimento económico e o desenvolvimento duma economia baseada no conhecimento. A sua importância estratégica e o seu promissor crescimento levaram recentemente a Comissária europeia para o digital, Mariya Gabriel, a anunciar medidas, que serão aplicadas no decorrido dos dois próximos anos, para facilitar a participação das mulheres no setor digital, promovendo as suas qualificações e o ensino superior nos domínios ligados as NTIC a as startups.

A segregação entre os géneros no mercado do trabalho reduz as escolhas educativas e de vida, alimenta a desigualdade salarial e perpetua os estereótipos num circulo vicioso e sem fim. Como superar esta segregação profissional no mercado de trabalho?

Nas NTIC, a discriminação começa pela educação 

A desigualdade salarial no setor digital deveria preocupar-nos, porque Europa projeta sofrer um importante défice de qualificações digitais daqui a 2020 : apesar da procura de especialistas NTIC e de perfis digitais, a percentagem de europeus que têm uma formação ligada as NTIC baixou. Se é uma tendência comum para os dois géneros, cada vez menos mulheres escolhem estes postos de trabalho ou diplomas ligados as NTIC.

Segundo a EIGE, há quatro vezes mais homens que mulheres com diplomas ligados as NTIC e a situação não está para melhorar, tendo em conta a percentagem de mulheres diplomadas nas NTIC em 2016, como se pode ver no gráfico aqui abaixo.

Uma outra forma de discriminação foi revelada pelo a EIGE : “na maior parte dos Estados membros, as mulheres nos postos de trabalho TIC têm tendência a fazer mais estudos de que os homens. Na UE, 73% das mulheres e 66% dos homens trabalhando nas NTIC tem um diploma superior”. As mulheres necessitam sempre de mais qualificações para serem aceitas no meio.

Isto inscreve-se numa tendência mais larga de escolhas educativas que podiam reforçar a desigualdade salarial : só um terço dos diplomados em CTEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemáticas) são de sexo feminino. A aspiração de escolher uma certa carreira profissional começa a formar-se desde jovem : “como as raparigas e os rapazes são expostos ao mundo da segregação no emprego em razão dos preconceitos de género na escola e nos efetivos muito feminizados dos professores”, explica a EIGE. Os dados da OCDE, recolhidos no quadro do teste PISA, mostra que as expectativas em termos de carreira formam-se muito jovem:

A confiança em si também constrói-se no principio da vida e a eliminação das desigualdades entre as raparigas e os rapazes perante as novas tecnologias deveria ser uma prioridade. Por exemplo, a EIGE, sublinha que “as raparigas e os rapazes já têm diferentes níveis de confiança e de competências no que toca a utilização de aparelhos digitais aos 15 anos (…). A maioria dos rapazes começam a resolver sozinhos os problemas que surgem com os aparelhos elétricos e sentem-se então mais a vontade quando é preciso usar material digital que eles conhecem menos”.

Uma sorte para as mulheres e para a economia na sua globalidade

Tendo em conta que a qualidade do tempo de trabalho tem efeitos benéficos no equilíbrio trabalho-família (como se podemos ver no ultimo relatório de Eurofound), as mulheres podiam aproveitar uma carreira neste setor onde as condições de trabalho são mais flexíveis e o ambiente social mais favorável. As NTIC, como setor onde os salários são muito elevados, podiam ser uma ferramenta de redução da desigualdade salarial : um numero mais importante de mulheres nos postos ligados as tecnologias da informação e da comunicação podia contribuir para isso.

A EIGE considera que incentivar mais mulheres a lançarem-se nas carreiras do setor CTEM “permitiria relançar a economia, criar empregos (1,2 milhões daqui a 2050) e aumentar o PIB a longo prazo (820 mil milhões daqui a 2050)”.

Muitas medidas podem ser tomadas a nível político, como no que toca aos preconceitos culturais, para que este crescimento específico do setor possa ter um impacto positivo no emprego das mulheres. A Bulgária é, por exemplo, o país onde as mulheres representam a maior percentagem de profissionais nas novas tecnologias (35%), graças a uma combinação de políticas governamentais e de iniciativas locais conduzidas por mulheres deste mesmo setor.

As ONG cujo objetivo é de reduzir a discriminação das mulheres nas NTIC e nas CTEM podem também ter um papel importante. Na Alemanha, a percentagem de mulheres que trabalha em profissões ligadas as NTIC cresceu nestes últimos anos, mais do que noutros países, graças a atividade da Kompetenzzentrum Technik-Diversity, que permitiu aos atores da educação e do trabalho de colaborarem.

Estes casos sugerem que as políticas públicas, combinadas de forma inteligente com iniciativas cidadãs e do compromisso de associações locais, podiam constituir uma chave que permitiria de proteger as NTIC das dinâmicas sexistas que tocam infelizmente demasiado setores.

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